Estágio, Júnior... Qual a Melhor Primeira Experiência na Carreira Tech?
A busca pelo primeiro emprego na área de tecnologia é um tema que gera muitas discussões e, para quem está começando, pode parecer um verdadeiro labirinto. Muitos se perguntam: devo começar como estagiário ou tentar uma vaga de júnior logo de cara? Essa questão levanta diferentes perspectivas. Por um lado, o estágio é visto como uma porta de entrada facilitada para estudantes universitários, oferecendo um ambiente propício para o aprendizado e o desenvolvimento de habilidades, com a vantagem de ser um ambiente de apoio e ensino. Por outro, a posição de júnior promete um salto maior: um salário mais atrativo, maior autonomia e a oportunidade de mergulhar de vez no mercado de trabalho, acelerando o crescimento profissional. Mas qual caminho realmente impacta mais a sua trajetória inicial?
Para ilustrar o impacto da primeira experiência, quero compartilhar um pouco da minha própria trajetória. Comecei minha carreira como júnior em Análise de Dados, atuando também como um "faz-tudo" no backend em uma grande distribuidora de produtos de bem-estar. O time de tecnologia era enxuto: um engenheiro sênior (o verdadeiro pilar da operação, responsável por todo o sistema, do caixa ao servidor, em Node e Next.js), um profissional de suporte técnico focado em frontend e DevOps, e eu.
Minha função principal era a análise de dados de vendas. No entanto, muitas vezes eu me via mergulhando no backend com Python, especialmente quando o volume de trabalho aumentava. Cheguei lá com o que considerava um bom conhecimento de Python – hoje vejo que era apenas o básico. Mas foi a necessidade que me impulsionou: precisei aprender a criar scripts de web scraping, aprofundar-me em matemática para gerar relatórios complexos de vendas e eficiência de campanhas, e entender o backend na prática.
Até então, meu conhecimento era majoritariamente teórico. Eu sabia "o que" fazer, mas não "como". Naquela empresa, tive a oportunidade de transformar teoria em prática. Comecei com tarefas relativamente simples, típicas de um júnior, como manipulação de SQL e requisições a APIs internas. Com o tempo, passei a desenvolver minhas próprias APIs e criar novas rotas no sistema. Um ponto crucial de aprendizado e responsabilidade foi minha contribuição na refatoração do banco de dados existente, otimizando a estrutura para melhor performance e escalabilidade. Lembro-me vividamente de um dia em que, ao me ver estudando Orientação a Objetos (POO) em Java, o sênior dedicou um dia inteiro para me ensinar, e foi ali que finalmente compreendi esse paradigma fundamental.
No final, minha contribuição foi além da execução técnica: eu era responsável por um peso considerável nas decisões de ações em duas campanhas de marketing. Meu papel era apresentar os dados, os fatos e, crucialmente, as soluções baseadas nessas análises. Meu último grande projeto foi a criação de um sistema de relatórios automáticos. Desenvolvi uma rota web interna na rede local que permitia selecionar diversas variáveis — fornecedores, representantes, produtos, períodos de vendas — e gerar diferentes tipos de relatórios, como comparativos de vendas, comissões e produtos mais vendidos. Além disso, programei a execução automática de relatórios específicos semanal e mensalmente. Tudo isso em apenas seis meses. Foi um salto gigantesco em meu desenvolvimento, um avanço percebido tanto por mim quanto pelo meu sênior.
É crucial entender que o ambiente de trabalho e o tamanho da equipe impactam diretamente o tipo de experiência que você terá. Na minha trajetória, a equipe era pequena e a pressão, grande. Esse cenário, embora desafiador, proporcionou uma responsabilidade maior e, consequentemente, oportunidades de aprendizado acelerado em diversas frentes. Eu fui lançado "na guerra" e precisei me virar para entregar, o que me forçou a aprender rápido e na prática.
Em contrapartida, tenho um amigo que começou na mesma área como estagiário em uma grande corporação, como a Vivo. Ele relatava que raramente via código. A estrutura era tão bem definida que as tarefas eram muito segmentadas, e as grandes responsabilidades não chegavam até os estagiários. No entanto, em um ano, ainda na faculdade, ele foi efetivado como júnior. Embora ainda não mexa com código e lide mais com planilhas do que com desenvolvimento, ele conquistou um salário mais alto e a segurança de estar em uma empresa renomada, com diversas possibilidades de mudança de área no futuro.
Esses são dois exemplos claros de caminhos distintos que, no final, podem levar a ótimos resultados. Meu amigo, por exemplo, está consolidado em uma grande empresa, a um passo de alcançar seus objetivos de carreira, mesmo com uma experiência inicial menos "mão na massa" no desenvolvimento. Já eu, como mencionei, comecei no epicentro da ação, o que me trouxe uma curva de aprendizado íngreme e um nível de responsabilidade que talvez não fosse esperado para um júnior.
Essa dicotomia nos leva a uma reflexão importante: a barreira do "eu não sei se consigo lidar com a vaga por causa dos requisitos" é uma insegurança universal que todos nós, em algum momento, enfrentaremos – e provavelmente sempre enfrentaremos. A realidade é que não temos como saber tudo. Muitas vezes, o segredo é simplesmente dar o próximo passo sem ter todas as respostas, confiar na nossa capacidade de aprender e nos adaptar. Ficar estagnado por medo de não saber tudo é o verdadeiro obstáculo ao crescimento.
Diante de tudo o que foi discutido, a conclusão que se impõe é clara: o melhor caminho a tomar é simplesmente começar. Não perca tempo se questionando excessivamente sobre qual vaga é ideal ou qual trará mais aprendizado. A barreira da incerteza é real para todos, mas o verdadeiro progresso acontece quando você decide agir, mesmo sem ter todas as respostas. Abrace a jornada de aprendizado contínuo, pois ela é a constante na área de tecnologia.
E, de fato, a evolução do seu conhecimento nunca deve depender exclusivamente do seu ambiente de trabalho. Independentemente de você estar em um estágio, em uma posição júnior "mão na massa" ou em uma estrutura mais segmentada, a responsabilidade de crescer é sua. Faça cursos, desenvolva projetos pessoais, e procure aplicar de forma real o que você aprende. No trabalho, nem sempre você fará algo extraordinário, mas quando as oportunidades surgirem, aproveite-as ao máximo. No entanto, o estudo por fora e a busca por aprimoramento constante são inegociáveis.
Essa mentalidade, aliás, é um denominador comum entre os profissionais de sucesso que conheço na área de tecnologia. Seja entre estagiários com perspectivas brilhantes ou Tech Leads de grandes empresas, a crença é a mesma: comece onde puder, e nunca pare de aprender e de se aprimorar. É essa proatividade que realmente impulsiona a carreira e garante que você esteja sempre pronto para o próximo desafio.